Pandemia já sobrecarrega em mais de 100% o trabalho dentro dos condomínios.
Muitos segmentos têm realizado estudos sobre os impactos da Covid-19 na sociedade e dentre tantos dados do setor de serviços, condomínios tem se destacado pela sobrecarga de trabalho apresentada no último ano.
As regras de controle da pandemia, isolamento social e higienização constante, tiveram impacto imediato dentro dos condomínios, com recepção, zeladoria e trabalhadores da limpeza vendo sua rotina mudar completamente do dia para a noite.
José Roberto Graiche Júnior, presidente da AABIC (Associação de Administradora de Bens Imóveis e Condomínios de São Paulo), alerta em reportagem publicada pelo R7, que entre idas e vindas, em 2020 o trabalho nos condomínios de apartamentos aumentou em mais de 100% desde o início da pandemia e cita o exemplo: “O pessoal da limpeza hoje limpa dependências e elevadores de duas a três vezes ao dia. Antes da pandemia, era só uma”.
Funcionários de recepção chegam a relatar um aumento de mais de 100% de entregas, indo de grandes e pequenos produtos de compras online ao quase ininterrupto delivery de refeições, que passaram a exigir mais atenção, espaço e agilidade dos funcionários para organizar essa logística sem interferir na segurança e acesso.
Enquanto isso, a zeladoria tem se desdobrado no controle da higienização das áreas comuns, supervisionando e orientando funcionários responsáveis pela limpeza que hoje trabalham no mínimo 2 vezes mais que em suas rotinas anteriores, para garantir ambientes mais seguros aos condôminos.
Além disso, zeladores também viram sua responsabilidade aumentar com a necessidade de maior fiscalização dos acessos ao condomínio e suas áreas comuns, controlando o fluxo de pessoas em áreas permitidas ou não.
Declarações de recepção e portaria concluem, que embora consumidores cada vez mais digitais estivessem fazendo aumentar consideravelmente as demandas de entrega nos últimos anos, não havia como prever a multiplicação deste serviço em tão curto espaço de tempo.
Impactos administrativos
Consequentemente, problemas administrativos para controlar tanto trabalho começam a surgir. José Roberto comenta: “A maior dificuldade que os funcionários têm é ter que conseguir cumprir com essas atividades dentro do horário estabelecido na sua jornada de trabalho”.
Todas as rotinas precisaram ser reformuladas, o que envolveu atribuição de novas tarefas e adaptações de escala, atingindo diretamente as administradoras de condomínio.
Portanto, funcionários dessas empresas também têm trabalhado muito mais, com recursos humanos e departamento pessoal precisando, além de tudo, manterem-se atualizados com todos os decretos que surgem devido à covid.
Se considerarmos que além das questões descritas, administradores e síndicos precisam lidar com afastamentos em seu quadro decorrentes de doença (que se tornaram muito mais comuns), férias ou folgas, foi necessária muita estratégia para atender a essas novas necessidades condominiais sem mudar o contingente, como realizar o remanejo de funções, repensar a situação de folguistas e abrir mão do cuidado à áreas ociosas, para atender as de maior fluxo.
A AABIC estima que hoje 65% dos funcionários são contratados diretamente pelo condomínio e outros 35% são terceirizados. Pelo cenário atual, de poucas perspectivas de mudança para o próximo ano, talvez esses números se alterem, com o trabalho administrativo sendo muito mais exigido.
Embora a situação nos condomínios não possa ser chamada de crise, pois não houve aumento ou queda do número de vagas, não deixa de merecer atenção. Em geral, condôminos estão passando por dificuldades recorrentes da pandemia, o que impacta diretamente nos riscos financeiros que envolvem a sua administração.